Salvino cansou de iniciar e fechar negócios. Em suas mãos os empreendimentos arrefecem. Já Sophia coleciona uma sucessão de chefes intransigentes. Diariamente tenta atravessar muralhas. Pietro, por sua vez, vive às turras com o pai. O problema, crônico de Sthefania, é que, desde a adolescência, só se relaciona com parceiros do tipo demolidores, ou seja, especialistas em depreciá-la. A vida de muita gente é marcada por situações que se repetem, cutucando aquele mesmo ponto dolorido. Vira e mexe caímos na mesma cilada, como se uma força desconhecida disparasse dentro de nós a tecla “repeat”.

Do ponto de vista “psico-sistêmico”, caímos no mesmo buraco em função da complexidade inconsciente e muitas vezes desconhecida ou até mesmo negligenciada ao longo do histórico familiar. “A memória de vivências que trouxe grande sofrimento para a pessoa, que no momento não tinha condições de lidar com aquilo, é aparentemente apagada da consciência, mas registrada no arquivo inconsciente”. Sempre que algum evento externo tiver a menor semelhança com aquela determinada memória, esse conteúdo transborda, como para lembrar que continua vivo e atuante. A tendência é continuar assim até que haja consciência de que é preciso interromper esse ciclo traumático e vicioso. E a melhor maneira de desatar esses emaranhamentos é iluminando as partes nebulosas de nós mesmos, através de algum trabalho ou desenvolvimento psicoterapêutico, de preferência que tenha mais propriedade de reparar este contexto de maneira sustentável, breve e eficiente. Para essa finalidade sugiro: a Constelação Sistêmica e a Expansão da Consciência.

Sob a perspectiva das constelações sistêmicas (nome derivado do inglês constellate e do alemão aufstellung, no sentido de reposicionar e alinhar certos elementos numa dada configuração que torne a questão mais clara aos olhos de todos), os nós ocultos que governam nossas vidas, sedimentando padrões negativos, são chamados de emaranhamentos. Podem ser desfeitos, um a um, seguindo com critérios técnicos esta metodologia, desenvolvida pelo terapeuta alemão Bert Hellinger (1925.2019).

Esses emaranhamentos acontecem quando transgredimos principalmente as cinco leis fundamentais e essenciais da vida humana, desalinhando e transgredindo as ordens sistêmicas. São elas:

1- Pertencimento e Inclusão – todos devem se sentir parte do sistema (ao invés de evitar o convívio com algum parente porque destoam de nosso estilo de vida, é importante incluí-lo);

2- Procedência e Hierarquia – sempre respeitar quem chegou primeiro (pais são “maiores” que os filhos, inclusive quando os progenitores se tornam idosos. Nesse caso, os filhos permanecem menores, mas, ao mesmo tempo, precisam atender as necessidades dos pais com zelo e humildade);

3 – Equilíbrio e Estabilidade – entre dar e receber (numa relação de qualquer natureza, as partes devem nutrir a relação com cuidados e valorização recíprocos). Encontrar obstruções desses tipos no histórico familiar e trazê-las à consciência, reposicionando algumas atitudes, é fundamental para gerar reparos em todo o sistema e alinhar as áreas da vida relevantes para o bem estar, harmonia e plenitude.

4 – Razão e Justificativa – Está relacionada diretamente ao Constelado, onde ele possui uma linha de argumentação convicta para sustentar suas ações, normalmente estas não produzem os resultados esperados. Importante fazer esta leitura, sempre com respeito, para que em seguida, possamos exercer as ações adequadas. Aqui também vale o reconhecimento do lado criança ou adulto do elemento do Sistema. Justificar,  atende o resultado final esperado? É papel de vítima ou protagonista?

5 – Espaço e Tempo – Está relacionada diretamente ao presente – passado – futuro. Fundamental para gerar ordem no Sistema e facilitar os resultados no Processo final da Constelação Sistêmica. Reconhecer as situações onde estão ocorrendo é muito importante para a reorganização do Sistema. Muitas vezes precisamos reconhecer o lado criança ou adulto de algum elemento do Sistema. Exemplo: Esta decisão é num nível de maturidade (adulta) ou infantil (criança)? Hoje você é uma criança ou adulto? Olhar para os pais pode estar atrelado a uma criança que tem postura de olhar para o passado. O sistema harmônico contempla o respeito ao passado e a orientação para o futuro.

Para que o conteúdo inconsciente se revele, é preciso que uma teia de relacionamentos seja trazida à luz com explicitude. No processo das Constelações Sistêmicas contemplamos os seguintes elementos relevantes:

Facilitador / Constelador, em geral, conduz a história e o alinhamento de um ou mais elementos com um olhar naquelas situações mais emaranhadas da vida de cada um. Depois de trazer à luz do consciente e de responder perguntas preliminares sobre seu contexto familiar ou organizacional, a pessoa escolhe entre os presentes no grupo aquele que irá representá-lo, bem como seus elementos relevantes para alcançar os resultados almejados, e passa a observar a “encenação técnica” que se diferencia do psicodrama porque os participantes não se manifestam livremente, apenas quando indagados pelo Constelador.

Os representantes respondem, como se fossem personagens em questão às perguntas simples do facilitador. Exemplo: “Seus pais estão casados há muito tempo”? E são convidados a dizer, de tempos em tempos, como estão se sentindo, além de seus sintomas corporais; se sentem dor em alguma parte do corpo e se querem fazer algum movimento, etc. O surpreendente é que, na maioria das vezes, falas, sentimentos e gestos ali externados por pessoas completamente desconhecidas do Constelado (a pessoa que tem uma questão a reparar) coincidem com o jeito de seus representados.

Os posicionamentos dos representantes no espaço, bem como seus sentimentos e impulsos, produzem pistas preciosas. “É como se fosse juntando as peças de um quebra-cabeça, guiada por hipóteses que vão se confirmando até chegar ao ponto central do emaranhamento”.

Enquanto toda dinâmica emerge no “Campo Morfogenético” o Constelado, que está aguardando a solução sistêmica sustentável, apenas observa, sentindo, vendo e ouvindo (intuitivamente) que este simples movimento é o suficiente para impactar 500 (quinhentos) milhões de células que estão inseridas em nosso sistema orgânico num total de 50 (cinquenta) trilhões delas.

Destinos enredados:

O que acontece com um membro familiar, inevitavelmente afeta os demais porque todos integram a mesma rede inserida num lençol freático d’alma. A dificuldade de um se repete no outro, assim como potenciais e virtudes. Por exemplo: uma pessoa fica estagnada em solidariedade a um elemento sistêmico que padeceu da mesma forma no passado. “É como se dissesse: Por amor ou honra a ti, ficarei triste, doente ou fracassarei’. Como se assumisse o fardo no lugar de uma outra pessoa”. Isso ocorre porque temos a tendência a fazer pactos inconscientes com nosso sistema ascendente, muitas vezes por lealdade inconsciente, mesmo os mais distantes, nos identificando com suas dores e tentando, de alguma forma, expiá-las. Por isso, muitos repetem comportamentos destrutivos. Também são recorrentes tentativas de compensações motivadas pela culpa por alguma falta que acreditamos ter cometido. É o caso de um filho que se sente responsável pela tristeza da mãe e que se cobra soluções que estão muito além do seu alcance. Em ambos os casos, o problema de fundo é uma percepção distorcida da realidade. Uma vez identificada as amarras, é o momento de solucionar os desconfortos, repactuando consigo mesmo algumas atitudes. O Constelador, então, pode solicitar aos representantes que repitam frases de cura e transformação, que cientificamente estão atreladas à uma área específica da física quântica, produzindo aceitação e gratidão por tudo o que se recebeu, do jeito que foi possível. Costuma-se dizer: “Sinto muito por não ter lhe proporcionado o que você necessitava, mesmo com as minhas dificuldades”. Ou ainda, “Eu sou o filho e você é o pai, eu sou pequeno e você é grande” (muitos casos são os pais e filhos que violam papéis e sofrem por isso. Quando esse desequilíbrio hierárquico se revela, o Constelador pode sugerir ao Constelado que se sente num banco mais baixo do que seus progenitores para poder incorporar física e simbolicamente seu lugar na família). “Após estas fases emergem sensações de harmonia no sistema, muitas vezes num grau exacerbado de intensidade”. A essa altura, o Campo Mórfico, pode convergir para que o Constelador convide o Constelado a tomar o lugar do seu representante a fim de sentir a energia oriunda deste campo, absorvendo a força dele emanada.

A Comprovação Científica Fenomenológica:

Você deve estar se perguntando: “Como alguém que desconhece o Constelado e seus elementos sistêmicos pode fazer gestos e dizer coisas como se fosse a pessoa representada”? Ou então: “Como eventos vividos por antepassados longínquos podem influenciar nossa vida no aqui e agora”? Ambos os fenômenos se explicam com a ajuda de duas teorias. A primeira é a Teoria dos Campos Morfogenéticos, mencionada acima e desenvolvida pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, autor de Ciência sem Dogma (editora Cultrix), dentre diversas outras obras. O pesquisador descobriu que há uma inteligência que precede a nossa existência física e que se manifesta de maneira sutil, com forte tendência a repetir aquilo que acontece com maior frequência. “Cada vez que ocorre a repetição de um fato, esse campo aumentaria a força e a probabilidade de determinado evento ocorrer nas gerações seguintes”. Uma segunda explicação parte da Epigenética, ciência que estuda a ação do meio ambiente e dos pensamentos sobre a biologia. Referência nessa área, o biólogo norte-americano Bruce Lipton, autor de Biologia da Crença (editora Butterfly), descobriu a existência de “nanorradares” em nossas células. Segundo o estudioso, essas microantenas captam os conteúdos da esfera inconsciente, permitindo que dados aparentemente misteriosos alcancem a consciência.

Vidas alinhadas:

Quando desvelados e harmonizados, os emaranhamentos históricos, estes dão lugar a percepções mais lúcidas dos acontecimentos, que, por sua vez, são acompanhadas de atitudes de respeito, aceitação, responsabilidade, reverência e inclusão. “Não se trata de mágica, pois o processo das Constelações Sistêmicas, não solucionam automaticamente e de imediato, todos os problemas. O sistema por ser inteligente carece de um pequeno espaço de tempo para reposicionar os elementos e inserir cada um em sua real função. É necessário que o Constelado, sem julgamentos e com respeito deixe o centro da sabedoria que advém do âmago do coração  efetuar as devidas reparações”.

Me lembro de um case de um metalúrgico que mencionou o privilégio de experimentar essa possibilidade antes do falecimento do seu pai. Os dois se reaproximaram quando ele adoeceu. “Meu pai não recebeu o carinho e atenção necessários da mãe e portanto passou a resolver tudo por ele. Após a constelação, reassumi a posição de filho, atentando-me ao meu real papel, sem interferir diretamente nas demandas do meu pai. Assim esse padrão foi gradativamente desaparecendo”, mencionou ele após alguns dias. Desde aquele momento, passou a viver de forma mais leve e consciente.

Ao compreender as dificuldades de nossos antepassados, passamos a sentir compaixão por eles, e desse sentimento surge a aceitação das coisas como elas são, o que nos apazigua e abre caminhos desconhecidos.

Me lembro de uma moça que Constelei que percebeu que era desacreditada por seu pai porque ele também fora desacreditado por seu avô e sua vida, a partir de então, pôde se refazer sobre bases de compreensão entre as gerações.

Já o casal de empreendedores decidiram passar pelo processo da Constelação Sistêmica, após sucessivas tentativas frustradas de gerar um filho e sem nenhuma explicação clínica. “Não tínhamos mais opções. Então, chegamos de coração aberto ao procedimento”, relatou o marido. Três meses depois, bebê à vista. “Ficou claro que havia uma interrupção do fluxo do amor entre nós e meu sogro, um militar muito severo, filho de um homem com dificuldade de demonstrar afeto. Na Constelação, essas relações podem ser reparadas com precisão”. Ele temia reviver a história paterna com seu descendente, e a gravidez não se consumava.

Outras áreas que estão abraçando a metodologia:

Intensa e tocante, a experiência, é bem assimilada pelos Constelados e traz “luz” onde, até então, imperava as trevas.  Raramente há quem demande acompanhamento psicoterapêutico após a constelação. A resposta à abordagem depende muito dos recursos internos e do grau de “autoaceitação” e de ver com respeito o que precisa ser visto. O interessante é que quem participa representando ou apenas assistindo também se beneficia de todo procedimento.

A motivação primordial é, em última análise, a mesma: a busca de elos perdidos ou rompidos que precisam ser reatados, porém recomenda a escolha de profissionais capacitados, sérios e confiáveis, de preferência indicados por pessoas que vivenciaram o processo e saíram com seus resultados esperados. Os insights e as transformações decorrentes da Constelação se prolongam por até um ano. Por isso não é indicado trabalhar a mesma questão num curto intervalo de tempo. Também é possível aplicar a ferramenta no atendimento individual e com bonecos.

Por sua eficácia, a Constelação Sistêmica, que surgiu tendo a família como foco, acabou sendo transposta para outros grupos humanos. Hoje beneficia empresas, escolas e até o Direito Jurídico.

Me lembrei agora de uma Constelação Organizacional que realizei, onde elementos relevantes de uma multinacional recorreram ao método para sondar quais líderes estavam alinhadas aos novos valores instituídos e quais ainda apresentavam certas resistências. Aliás o próprio Bert Hellinger, o pai das Constelações, também norteia a relação entre escola e pais. “Muitas questões relacionadas à aprendizagem e à desarmonia no ambiente escolar estão ligadas à Entropia, ou seja, desordens das leis do amor na rotina educacional”.

Na Justiça, ou melhor no Direito Sistêmico, o maior exemplo vem do juiz Sami Storch, atuante em Amargosa, a 235 km de Salvador. Segundo ele, que aplica a metodologia desde 2010, pais em litígio acabam encontrando saídas pacíficas após dinâmicas que levam ao reconhecimento da importância de cada membro da família. Frases reparadoras como: “Você me fez ser mãe/pai, e por isso sempre será importante na minha vida”; “Foi difícil para mim, mas reconheço que você também teve dificuldades ao longo do nosso relacionamento” abrem os canais da conciliação, desafogando a justiça e acelerando os julgamentos dos processos jurídicos.

Agende sua Constelação Sistêmica Familiar ou Empresarial