O ser humano ainda está construindo a ideia para adaptar e se conectar com um novo modelo que vem emergindo no aspecto da relação humana, ou seja, a interação dele com a pessoa mais importante do mundo, ele mesmo.

É fato que há fases na vida em que sentimos uma enorme solidão. Mas há uma dinâmica oculta emergindo e nos convidando a estarmos também conosco mesmos, refletindo sobre ações que compete apenas a nós e que somente teremos respostas mergulhando dentro de nossa essência.

Todos nós em diferentes fases da vida desfrutaremos da solidão e da solitude. No entanto, apesar de etimologicamente, em português, tanto solidão quanto solitude serem semelhantes, pois derivam do latim “solitudinem”, a solidão e solitude são sentimentos antagônicos.

Neste artigo relatarei a singularidade desses sentimentos e como é possível se manter bem consigo mesmo e viver uma vida mais harmônica, feliz e com mais recursos internos de contribuir com quem está atrelado ao seu sistema.  

Todos os esforços dirigidos para evitar a solidão falharam e falharão, porque são contrários à que você se torne consciente à sua solitude. A Solitude é algo essencial ao seu sistema que, em muitos momentos, não há maneira de evitá-la. Se trata do ato voluntário de ficar a só consigo mesmo sem se incomodar com qualquer sensação de vazio. À primeira vista parece algo complicado de entender porque não somos acostumados com isso. Culturalmente, sempre fomos doutrinados, através dos exemplos de nossos ancestrais para estar em busca de algum relacionamento afetivo. A percepção latente de se descomprometer de suas responsabilidades e missão, faz com que abracemos a muleta da necessidade de encontrarmos “no outro” o ilusório objetivo da eventual felicidade. Todavia, necessitamos desse tempo para “ressignificar” a nossa própria existência e cuidar da pessoa mais relevante do mundo.

Vivemos numa Era Evolutiva onde julgo significativo experimentar estar só, e administrarmos o medo de sentir solidão. A Solitude significa simplesmente ser completo. Te convido a refletir que você é inteiro, não precisa de ninguém mais para completá-lo e sim para desenvolver um processo associativo para agregar valores, identificando o seu centro mais profundo onde você se sentirá pleno, inteiro e transbordante com todas as seivas da Existência. Estará presente, e perceberá um novo ritmo de imensa suavidade, paz, alegria e bem-aventurança. Isso não significa que uma pessoa que está centrada em sua solidão não possa fazer amigos e se relacionar. Na realidade, a partir desta consciência, poderá emergir a possibilidade de se ajustar ao processo de compartilhamento de experiências com os outros, selecionando melhor a relação do dar e receber, dentro de um senso de equilíbrio. É muito comum eu ouvir queixas de relacionamentos em meus atendimentos, onde pessoas relatam que se entregam muito e a outra parte pouco agrega valores para manter latente a terceira lei do Ordem Sistêmica do Amor (Equilíbrio e Estabilidade), tão mencionada pelo Pai da Constelação Sistêmica, Bert Hellinger.

A Solitude é um isolamento voluntário e um prazer de estar consigo mesmo, numa fase da vida, ou até mesmo se perpetuando neste contexto. Essa expressão foi muito usada pelo pensador, filósofo e teólogo Paul Johannes Oskar Tillich (1886 – 1965), alemão-estadunidense, que associou o termo à glória e felicidade de estar sozinho.

Na Solitude, conseguimos entrar em contato com nosso mundo interno, alinhar e ordenar os pensamentos, percebendo com mais clareza o significado das nossas emoções e sentimentos. Um estado de privacidade de uma pessoa, não significa, propriamente, estado de solidão. Pode representar o isolamento e a reclusão, voluntários ou impostos, porém não diretamente associados a dor ou sofrimento. Uma oportunidade ímpar para que se possa ter contato com a meditação, concentração, introspecção ou oração individuais e alcançar um estado de paz e conforto interno.

É muito significativo, através deste olhar sistêmico, sentir-se bem consigo mesmo. Diria que é o alicerce de um ser humano que pretende ser exemplo de relação intra e interpessoal. O momento de Solitude é essencial para o bem estar, estabilidade emocional e psicológica, contribuindo também para um melhor desempenho e produtividade profissional, nos estudos e para melhores reflexões acerca das decisões importantes que precisam ser tomadas ao longo do processo de mudanças e transformações, mediante as diversas fases do ciclo de vida.

Por outro lado, convido-lhe a pensar que a solidão é muito mais do que estar sozinho. É possível se sentir solitário, mesmo rodeado de familiares, amigos e pessoas queridas. É muito natural perceber que há pessoas ao lado de outras, fisicamente próximas, mas com sentimento de que este outro, parece um “Ser invisível”.

Quem vivencia com frequência a solidão sente rotineiramente um vazio existencial, uma dor na alma difícil de se explicar, e que vem acompanhada de uma sensação de isolamento e, principalmente, dificuldade de se relacionar. É um sentimento de estar desconectado com o que está em volta, mesmo com pessoas próximas de si. Quando sente que ninguém pode lhe entender e que não é possível conectar-se com as pessoas, então a experiência da solidão está inserida em seu sistema.

“Quando me deparo com minha essência e me conecto com quem eu sou, não me sentirei sozinho”

O lado Luz e Sombra:

Há muitos benefícios em passar o tempo sozinho. A liberdade é relatada por muitas pessoas, como um dos mais importantes aspectos de bem estar, aliás um dos benefícios da Solitude, pois as restrições dos outros não terão nenhum efeito sobre a pessoa. Com o aumento da liberdade, as escolhas de uma pessoa são menos propensas a serem afetadas pela interação com outras pessoas. A liberdade tem o potencial de estimular a criatividade. Em 1994, o psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi identifica que os adolescentes que não suportam ficar sozinhos limitam suas capacidades criativas.

Outro benefício comprovado da Solitude é o desenvolvimento de si mesmo ao experimentar mudanças em seu autoconceito, ajudando uma pessoa a formar ou descobrir sua identidade sem distrações externas. A Solitude também proporciona tempo para contemplação, crescimento da espiritualidade pessoal e autoanalise.

Por outro lado, passar muito tempo sozinho, pode representar ser algo maléfico ao indivíduo. Muitos dos efeitos negativos foram observados em prisioneiros. Se o ser humano não estiver em equilíbrio interno, a reclusão pode desencadear respostas fisiológicas que aumentam os riscos para a saúde física e emocional. Os efeitos negativos do isolamento também podem depender da idade. Crianças em idade escolar primária podem reagir negativamente. Isso ocorre principalmente porque, muitas vezes, estar sozinhos nessa idade não é algo escolhido pelas crianças que podem se afastar socialmente quando elas não têm prazer de interagir com os outros, preferindo ficar sozinhas, causando timidez ou rejeição social.

Encontrando um estado de Equilíbrio e Estabilidade:

Embora a solidão seja um sentimento complexo de se lidar, é importante frisar que é normal se sentir solitário em algumas ocasiões pontuais. O que de fato precisa ser revisto, é quando o sentimento de solidão deixa de ser esporádico e passa a fazer parte da vida de uma pessoa, causando uma sensação de isolamento social e de tristeza. Quando uma pessoa só se sente bem quando está sozinha e começa ter dificuldades em se relacionar, com outras pessoas, é preciso ficar atento à percepção interna e, caso esteja causando desconfortos, deve buscar ajuda da Constelação Sistêmica ou outro profissional especializado que sinta confiança e segurança.

Aprender a lidar com a solidão e vivenciar de forma proveitosa a Solitude é fundamental para viver uma vida mais equilibrada emocionalmente e por consequência, uma saúde física e emocional estável. Convido-lhe a refletir:

Eu consigo viver bem comigo mesmo?

Eu me sinto sozinho mesmo estando rodeado de pessoas?

Há algum dialogo interno desconfortável quando estou comigo mesmo?

Aproveite os momentos de Solitude para fazer uma introspecção sobre esses e outros pontos da sua vida. Essa reflexão é fundamental, para fazer com que você consiga se reconectar com sua essência e assim viver uma vida mais plena, integral e feliz.

“A linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estar sozinho. Depois pariu a palavra Solitude para expressar a glória de estar sozinho”

Que fique claro que não quero enaltecer que não precisamos cultivar relações, pelo contrário, é importante ter conexões e relacionamentos, mas fique atento para não cair em armadilhas. Cultivar relações e conexões não depende da quantidade de “likes” que você recebe no Facebook, Instagram, Twitter entre outras redes sociais, pois muitos relatam que acabam por sofrer de solidão. A ilusória companhia de redes sociais não neutraliza a solidão, somente alimenta essa incessável busca do lado de fora e não se conectando com seus recursos internos.

Ficar sozinho pode ser um caminho desafiador a qualquer pessoa, já que, como menciono no início deste artigo, culturalmente não fomos “educados” para lidar com a solidão. Entretanto, é preciso abrir seus horizontes e entender que estar só ou não depende do “seu ponto de vista emocional”.

Relevante atentar que todo o cenário mundial vem se ajustando, há muitos anos, cada vez mais proporcionando produtos e recursos para esta classe emergente que identificou na Solitude, uma opção de ser feliz e viver sua vida com a certeza de estar bem consigo mesmo, com os relacionamentos, a carreira e em todos os outros contextos.

Mudanças & Transformação:

Através da Solitude é possível colocar as peças de nossas vidas em seus devidos lugares. Com a Entropia (estado de desordem natural imposta pelo nosso sistema) à qual somos expostos continuamente, podemos retirar um tempo para redefinir a nossa vida. A partir de então, proporcionaremos oportunidades para:

Definir novos projetos – Ter um momento em que ninguém está perto dá mais espaço para sonhar e avaliar as nossas metas. Com base nisso, aproveite desse espaço para definir seus objetivos e traçar os seus planos.

Compreender os relacionamentos tóxicos – Nem sempre estar rodeado de pessoas significa que possui amigos de verdade ou mesmo qualquer amigo. Quando toma um tempo para pensar pode acabar percebendo relacionamentos abusivos e até falsos. Seja namoro ou supostas amizades; consegue definir quem é de verdade e quem é falso e tóxico.

Impulso à criatividade – Por fim, a sua criatividade ganha mais espaço para florescer, mudar e melhorar com conforto. Dedicar um tempo a isso permite que suas ideias se renovem e encontrem novos postos de expansão.

Situações que devem emergir naturalmente com a Solitude:

Caso esteja com dificuldades de encontrar a Solitude na prática, aqui estão algumas situações simples que ela emergirá em sua vida com mais naturalidade:

1. Habituar-se em experimentar a Meditação, Mindfulness ou algo similar;
2. Fazer pequenas pausas no trabalho para perceber como está evoluindo;
3. Se adaptar por alguns momentos do dia a busca do silêncio;
4. Objetivar a busca do autoconhecimento para se evoluir como ser humano;
5. Refletir com mais assiduidade sobre seus comportamentos, sobretudo no contexto de conflitos e tensão;
6. Aprender uma nova habilidade, que lhe traga prazer e bem estar.
7. Sair da zona urbana e ir para o campo, mar ou montanhas, fugindo da vida agitada do dia a dia, tendo contato com a natureza, o que naturalmente, o colocará conectado com sua Essência.

Considerações finais:

O estado da Solitude não significa que você precisa estar contra a socialização. A proposta dela é que possa ter em mente que você sozinho, pelo tempo que achar adequado, pode te apresentar informações, até então desconhecidas pelo seu sistema orgânico.  Assim, você não precisa se ancorar em alguém ou alguma coisa para determinar a sua existência e razão de viver.

Em pouco tempo, perceberá que possui mais espaço muito amplo dentro de ti para encontrar tudo aquilo que sempre desejou e precisava. Um sentimento pleno de felicidade e bem estar poderá impregnar em sua Vida.

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